sexta-feira, 5 de março de 2010

Antiguidade Contemporânea


E mais um dia me vem à noite
Com suas incertezas vívidas
Fazer com que eu me observe
Pensando no que seja vida

Mas se Ela me persegue
Mais não sei a fazer
Pode ser que no amor eu me entregue
E na dor insista morrer

Lamentável é aquele estar
Quem não se dá o luxo de se autoquestionar
Porque este pode até viver
Mas a existência não é do seu merecer

Sou João, sou José, posso também ser Rita
Mas com mais um copo de birita
Não serei mais esse eu quem ali pode estar

A perfeição não está nada perto do que escrevo aqui
E o que é perfeito?
Se nem o que lês podes corrigir?!

(Ruan Teles)

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Autopsicografia - Fernando Pessoa


O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Fracasso - Pitty



O êxito tem vários pais
Orfão é o seu revés
Aos que sofrem, por fim o céu
Abranda a raiva

O que trago sobre os ombros
É meu e é só meu
Sustento sem implorar a bênção e o pesar
Mais vil é desdenhar
do que não se pode ter...

Vive tão disperso,
Olha pros lados demais
Não vê que o futuro é você quem faz
Porque o fracasso lhe subiu à cabeça
Atribui ao outro a culpa por não ter mais
Declara as uvas verdes, mas não fica em paz
Porque o fracasso lhe subiu à cabeça

O maestro bem falou
A ofensa é pessoal
Quem aponta o traidor
É quem foi traído

Já sabe o que é cair,
Ao menos tentou ficar de pé
E, vítima de si, despreza o que nunca vai ter
O mais verde é sempre além
do que se pode ter

Vive tão disperso,
Olha pros lados demais
Não vê que o futuro é você quem faz
Porque o fracasso lhe subiu à cabeça
Atribui ao outro a culpa por não ter mais
Declara as uvas verdes, mas não fica em paz
Porque o fracasso lhe subiu à cabeça

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Faz Tempo - Fabinho O'brian / Gigi

Já não se sabe o momento exato de partir
Não quero me entregar tão cedo
Aquele amor que eu senti quando eu te conheci
Não tá rolando mais, faz tempo

Não vejo mais o brilho
dos seus olhos pra mim
Nem sei se ainda
posso mesmo te fazer feliz

Cada momento
Que passamos
Juro, foi bom
Mas tudo que acende, apaga
E o que era doce se acabou


E quando eu penso em ir embora
Você não quer me dar razão
Me diz que eu tô jogando fora
O amor que tem no coração
E eu fico disfarçando
Finjo que não sei
Que em pouco tempo rola
Tudo outra vez

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

LACUNA NOTURNA III

Embaixo dos lençóis
Nossos pés se acham
Sua mão me arrasta
Deixando meu corpo arrepiado

Bem ali do seu lado
Mais próximos que dois átomos
Sinto em mim um respirar
Que não vem dos meus pulmões

Mas como vulcões
Nossos corpos acendem
Quase no mesmo segundo
Nem parece que dois mundos
Nunca estiveram tão ausentes

Porém, hoje estamos aqui
Na mesma cama, amando
Contemplando o frio
E o calor recíproco
Deste sentimento alheio.

domingo, 31 de janeiro de 2010

LACUNA NORTURNA II

Falta-me o ar dos pulmões
Sinto tua figura se aproximar
Aonde queres ir?
Perturbo a inocência

Resta em mim algo
Arde, mas sai logo
Isto que eu espero
Finjo, na verdade

Poxa! Será que fiz muito errado?!
Quero ir em linha reta
Agora insisto novamente
Sim; contigo.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Artigo: A INTERFERÊNCIA DAS FÁBULAS CLÁSSICAS NO LIVRO INFANTO-JUVENIL OBRAS COMPLETAS DE MONTEIRO LOBATO

Cristiano de Jesus Rosa (UFS)
Ruan Carlos Teles de Araujo (UFS)



Este estudo busca resgatar a importância das fábulas clássicas em toda larga história da Literatura, e ressaltar seu direcionamento para a literatura infanto-juvenil brasileira, baseado no livro Obras Completas de Monteiro Lobato. Com origem no Oriente, as fábulas somente tomaram maior dimensão com o grande fabulista grego Esopo, que através da oralidade, segundo Aristóteles, fez com que as fábulas clássicas conquistassem e persuadissem todo o mundo. As quais foram sofrendo modificações conforme épocas e nacionalidades, até chegar ao nosso país. Monteiro Lobato soube representar com eficiência esse gênero literário, porque além de trabalhar com cunho moralista, que já era conhecido nas fábulas, ele adicionou valores críticos e futurísticos em suas adaptações.

Palavras-chave: fábulas clássicas; literatura infanto-juvenil; Monteiro Lobato.





ABSTRACT

THE CLASSICAL FABLES`S INTERFERENCE IN THE BOOK OBRAS COMPLETAS WRITEN BY MONTEIRO LOBATO

The article`s aim is to rescue the classical fables` importance through the hole Literature`s history, and focus it on the Brazilian teenager literature, focused in the Monteiro Lobato`s book Obras Completas. With the orient as its birthplace, the fables just spread through the great Greek fable writer Esopo, who used the orality to make the fables reach all over the world. The fables had been modified time to time according to the age and nationality until arrive in our country. Monteiro Lobato knew how to represent greatly this literary genre, because beyond working in a moralist way, what had already known in fables, he added criticism and futuristic values in his adaptations.

Main Words: classical fables; teenager literature; Monteiro Lobato.






A história das fábulas clássicas pode ser divida em três momentos: o primeiro, aquele em que a moralidade constitui a parte fundamental, é o das fábulas orientais, que tem sua origem ainda não definida. Estudiosos apontam dois países de origem, Índia e China, onde as fábulas eram transmitidas oralmente. Já na Grécia, elas foram exaltadas por Esopo (séculos VII e VI a.C.), considerado o pai das fábulas. A partir deste momento as fábulas começaram a ser transmitidas de forma escrita em prosa e verso.

O segundo momento se inicia com as inovações formais de Fedro (15 a.C. – 50 d.C.), fabulista latino. A este é atribuído o mérito de ter fixado a forma literária ao gênero, o que garante para ele um lugar na poesia. As histórias versificadas de Fedro são sátiras amargas, baseadas nos modelos de Esopo.
Já o terceiro momento inclui todos os fabulistas modernos, dos quais Jean de La Fontaine (1621 – 1695) é considerado o mestre. Sua maior colaboração foi ter feito desse gênero um pequeno teatro. Segundo ele, “uma comédia em cem atos” e “uma pintura em que cada um de nós pode encontrar seu retrato”.

Bocage, em Portugal, publicou fábulas originais, e em versos, traduziu La Fontaine. Após Bocage, Garret publicou Fábulas e Contos (1853), e no século XX, surgiram as Fábulas (1955) de Cabral do Nascimento. No Brasil, destacou-se Monteiro Lobato, que inspirou-se no folclore e na literatura oral para difundir essa manifestação literária em nosso país.

A fábula é uma narrativa curta, de fundo didático, que encerra alguma lição de moral e ensinamento útil, a qual nasceu com a própria civilização e foi transmitida através de séculos e gerações pela oralidade; a fábula usa animais falantes e elementos naturais para representar alegoricamente as virtudes, traços de caráter e vicissitudes do homem, próprios de sua natureza e independentes da época, cultura e classe social, daí ser encontrada em todas as culturas e períodos históricos. (LA FONTAINE, s.d.p., p. 6)


A principio no Brasil, a fábula tinha como alvo o público adulto. Logo foi redirecionada para as crianças e os jovens com as adaptações feitas por Monteiro Lobato em seu livro Obras Completas, no qual deu nova roupagem às fábulas de Esopo e La Fontaine, trazendo-as para a realidade do seu país e época.

Monteiro Lobato, implantou no país a literatura infanto-juvenil, com sua forma única de mostrar a realidade humana. Também acrescentou a importância da literatura no processo social, o livro como meio eficaz de modificar a percepção que confere ao leitor um lugar de importância em seu mundo ficcional.

Em Obras Completas, Lobato fez menções das famosas fábulas clássicas, criou outras e se baseou naquelas em suas demais histórias infantis. Com uma nova visão sobre a moral dessas fábulas, sendo esta o valor ao conhecimento, a esperteza do ser humano, e a valorização da inteligência tão presente nos personagens humanificados, como são observados nas animações próprias do escritor, a boneca de pano Emília, o porco Rabicó, entre outros.

O pai da literatura infanto-juvenil brasileira soube adaptar de forma perfeita as fábulas clássicas, sendo que estas não perderam sua originalidade, ou seja, a idéia base que rege a estrutura moralista implícita desse gênero textual. O autor ainda usou humor nas narrativas como mais um atrativo. Vejamos então, a evolução nas versões da fábula “A cigarra e as formigas”:
Durante o inverno, as formigas trabalhavam para secar o grão úmido, quando uma cigarra, faminta lhes pediu algo para comer. As formigas lhe perguntaram: “por que, no verão, não reservaste também o teu alimento?”. E a cigarra respondeu: “Não tinha tempo, pois cantava, alegrando o mundo com a minha melodia”. E as formigas, rindo, disseram: “pois bem, se cantava no verão, dança agora no inverno”.
Moral: Descuidar de certos trabalhos pode trazer tristeza e faltas. (ESOPO, 2009, p. 161)


Chegou o inverno e a cigarra, morta de frio e de fome, foi bater à porta da casa da formiga, para lhe pedir algo para comer, ela que nem casa tinha para se abrigar.
Durante toda época de calor, a formiga nada mais fez do que trabalhar muito e estocar alimento para sobreviver ao duro inverno, resguardada dentro de casa.
Tanto a cigarra insistiu que a formiga foi à porta atender.
– O que você quer? – perguntou.
– Tenho fome. Aqui fora não tem mais nada para se comer. – respondeu a cigarra, tiritando.
– O que você fez durante todo verão? – perguntou a formiga à pedinte.
– Eu cantava noite e dia, toda hora! – respondeu a cigarra.
– Cantava, é? ¬– disse a formiga com desdém. – Pois agora, pode dançar!
E bateu a porta com força. (LA FONTAINE, s.d.p., p. 6)


I – A FORMIGA BOA
Houve uma jovem cigarra que tinha o costume de chiarão pé de um formigueiro. Só parava quando cansadinha; e seu divertimento então era observar as formigas na eterna faina de abastecer as tulhas [...]
II – A FORMIGA MÁ
Já houve, entretanto, uma formiga má que não soube compreender a cigarra e com dureza a repeliu de sua porta [...]
Os artistas – poetas, pintores, músicos – são as cigarras da humanidade. (LOBATO, s.d.p., p. 11)



Agora vejamos a evolução da fábula “O velho e a morte”, conhecida também como “A morte e o lenhador”:

Certa vez, um velho que havia cortado madeira carregou-a nos ombros e pôs-se a andar por um longo caminho. Cansado de caminhar, deixou cair seu fardo e invocou a morte. Esta apareceu-lhe e perguntou por que ele a chamara, e o velho disse: “para que me ajudes a carregar o meu fardo”.
Moral: a fábula mostra que todo homem é amante da vida, mesmo que ela seja miserável. (ESOPO, 2009, p. 52)


Um pobre lenhador, curvado pelo peso da carga que levava e da idade, com as roupas em farrapos, caminha em passos lentos rumo a sua mísera choupana. Porém, sem aguentar mais, larga sua carga por terra, e se deita sobre ela, sentindo-se estafado e dolorido. E se põe a pensar em sua má sorte. O que conseguiu desde que veio ao mundo? Há alguém mais pobre e miserável que ele na face da Terra? O pão lhe falta muitas vezes, e o sossego, sempre: a mulher, os filhos, os impostos, os credores, a carga de trabalho formam a imagem exata de suas desditas. Chama pela morte. Ela chega imediatamente e pergunta o que pode fazer por ele. A resposta: - Por enquanto, quero que me ajudes a carregar esta lenha.
Moral: a morte pode ser a cura para todos os males, porém, estamos bem assim. Antes padecer do que morrer é o lema de todo homem. (LA FONTAINE, s.d.p., p. 34)


Um velhinho, muito velho, vivia de tirar lenha na mata. Os feixes, porém, cada vez lhe pareciam mais pesados. Tropicava com eles, quase caia, e um dia, caiu de verdade, perdeu a paciência e lamentou-se amargamente:
- Antes morrer! De que me vale a vida, se nem com esse miserável feixe posso? Vem, ó Morte, vem aliviar-me do peso dessa ida inútil. [...] (LOBATO, s.d.p., p. 25)


Nas comparações entre as fábulas acima, podemos observar uma facilitação na linguagem e na descrição do ambiente, personagens e ações. Fica notória também a maior margem de interpretações nas obras de Lobato, que dá maior vivacidade aos personagens, torna o ambiente mais atrativo e dinâmico, aproximando as fábulas, de maneira crítica e futurística, às crianças leitoras.

Segundo o estudioso Umberto Eco, as Fábulas como um texto narrativo podem ser classificadas em textos fechados, que tem seu conteúdo claramente exposto ao leitor sem margem a interpretação pessoal, ou abertos, os que necessitam desta interpretação pessoal. Assim, não deixando a teoria levantada por Aristóteles sobre a arte de persuadir encontrada nas fábulas.

Em relação à moralidade, percebemos que não há fuga nos contextos, já que todas as versões nos remetem ao mesmo significado, ou seja, a visão da sociedade vigente sobre determinado tema. Como, por exemplo, na fábula “A morte e o lenhador” vemos que por mais que a vida seja infeliz, o homem não quer livrar-se dela.

Na antiguidade, a moral das fábulas era de extrema importância, pois se valia mais do que a própria narrativa, tanto que esta era escrita em cor diferenciada do restante do texto, ora vermelha, ora dourada. Isto era uma forma de mostrar o verdadeiro referencial que se submetia o cunho moralista.

A fábula como gênero textual, era proferida através da oralidade, e assim foi passada de geração para geração, posteriormente sendo escrita de acordo com a necessidade do meio. Por isso que apesar da semelhança entre as várias versões, sempre existirá uma diferença, ou seja, a necessidade do autor em passar os verdadeiros anseios implícitos na sociedade contemporânea. La Fontaine refere-se a esta necessidade quando diz: “Sirvo-me dos animais para instruir os homens...”; pois, supõe-se que naquele momento os leitores aceitavam ser instruídos por personagens animais com maior facilidade. Era a forma de persuasão encontrada pelo fabulista para atingir seu alvo.

As fábulas são um gênero literário importantíssimo na história da sociedade, sendo hoje pouco explorado pelo público adulto e aproveitado pelas produções contemporâneas infanto-juvenis.

Monteiro Lobato, com seu jeito singular de escrever, intelectual desde cedo, aproveitou o estilo da personificação encontrado nas fábulas para dar uma nova concepção de moralidade para a sociedade de sua época, de maneira que não ficasse clara totalmente essa suposta vontade individual do escritor. Além disso, é possível examinar, nas ilustres Obras Completas do literato brasileiro, artifícios já antigos que personificam animais e coisas, atribuindo-lhes vontades e características próprias de seres humanos. Como mostram seus personagens: a boneca de pano Emília, o sabugo de milho Visconde de Sabugosa, o porco Rabicó, o jacaré fêmea Cuca entre outros. Supostamente, a boneca, o porco, o sabugo e o jacaré são personagens descomprometidos com a sociedade, então para esses seres não existe a questão de “papas na língua”. Sendo assim, fica muito fácil dar alfinetadas na sociedade através dessas animações.

REFERÊNCIAS

CADEMARTORI, Lígia. O que é literatura infantil. 6ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.
CAVALHEIRO, Edgard. Monteiro Lobato – Vida e Obra. Edição da Companhia Distribuidora de Livros. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1955.
ECO, Umberto. Lector in Fabula – A cooperação interpretativa nos textos narrativos. São Paulo: Perspectiva, 1986.
ESOPO. Fábulas. 2ª ed. São Paulo: Martin Claret, 2009.
LA FONTAINE, Jean. Fábulas de La Fontaine – Volume I. São Paulo: Escala, s.d.p.
LOBATO, Monteiro. Obras Completas. 13ª ed. São Paulo: Brasiliense, s.d.p.
GRANDE ENCICLOPÉDIA BARSA. 3ª ed. São Paulo: Barsa Planeta Internacional Ltda., 2005.

LACUNA NOTURNA

Como queria, meu Deus
Borrar esta vida e acender outra
Encontrar um elo perdido qualquer
Livrando-me dos pensamentos exacerbados

Pintaria uma casa e uma profissão
Sem sequer fazer correlação
Com a preciosidade daquele mirar.

(Ruan Carlos Teles)